quinta-feira, outubro 23, 2008

Crise Financeira - A Génesis

Durante as últimas semanas temos sido assombrados com notícias sobre as consequências da crise do "sub-prime" americano. Se há cerca de 1 ano alguém nos dissesse que o quarto maior banco americano (e já agora uma instituição centenária) iria falir, diríamos com certeza: "..Tu estás mas é maluco!". Mas tal aconteceu e muito provavelmente outras coisas tão ou mais impossíveis aconteceram! (vamos deixar as reacções dos governos para a 2ª parte deste post)

Quero então deixar aqui a minha visão deste pequeno problema, pequeno para que de alguma forma se torne mais familiar. Tudo começa à cerca de dois/três anos quando se fala mensalmente no aumento do custo das matérias-primas. Este aumento é realmente importante e cria um efeito em cadeia, primeiro o petróleo, depois o milho, trigo, soja, arroz, electricidade, etc...blá blá blá...e por fim...tendências inflacionistas! Preocupação geral na Europa e EUA e os bancos centrais aplicam o seu novo invento: subir as taxas de juro.

Ora bem, numa situação normal o consumo começa por retrair e lentamente a situação repõe-se. Mas este não é o caso, não estamos numa situação normal, é necessário prolongar um ciclo positivo nas maiores economias do mundo e os especuladores e investidores estão dispostos a isso. BASEADOS EM QUÊ? Nas altas rentabilidades que têm vindo a acontecer e na necessidade de mostrar que a "bolha" da internet já foi ultrapassada. É necessário manter o ritmo e rentabilidade de investimentos e todos estão dispostos a fazer o que seja necessário. Começa-se então a investir e a especular a um ritmo superior ao abrandamento de consumo! Bom...é fácil de perceber que entramos numa espiral de subida tipo "pescadinha de rabo na boca"! Os bancos continuam a subir as taxas o que gera maior de necessidade de investimentos para compensar o abrandamento e manter a rentabilidade.

Após sucessivas subidas de juro a economia começa a resfriar já que nem consumidores nem empresas conseguem gerar os mesmos rendimentos. As expectativas de curto prazo começam a ficar afectadas e os valores em bolsa começam a cair (tanto em Wall Street como no resto do mundo). Não existe liquidez disponível para sustentar o aumento dos custos (de produção ou de vida) e é necessário vender investimentos. Aparece o "Fantasma Abrandamento"!

Passamos agora um segundo filtro de normalidade (que seria o tal abrandamento) já que a pescadinha continua. Existe uma sede de rentabilidade e começam a saltar para a boca do povo palavrões caros como: BRIC's, Warrants, Alavancagem, Protecção de Risco, Hedge Funds, Commodities, Produtos Complexos, etc... e a espiral segue criando o efeito "bolha".

Chegamos a um ponto de eventual ruptura quando o especulador e o investidor não conseguem manter o ritmo de crescimento já que as pessoas e as empresas necessitam de financiamentos e recorrem ao mercado e às suas poupanças. Começa-se a vender e de repente surge a dúvida: "Será que isto realmente vale tanto? Qual será o valor real?"

Daí à crise do "sub-prime" demoramos menos de nada! O primeiro a ser contestado são as hipotecas (muitas delas baseadas em bens com valor diminuto) o que afecta muito a confiança de todos nós, pois se no imobiliário não se ganha dinheiro o resto está corrompido! As necessidades de liquidez são crescentes e começam-se a vender investimentos bem debaixo do seu valor de mercado gerando ainda mais desconfiança.

A venda acelerada e desenfreada cria uma espiral negativa que estamos a viver agora e que parece não ser possível controlar!

Ora parece impossível mas tudo isto BASEADO EM QUÊ? Na avareza de investidores e especuladores, na falta de coragem para assumir perdas e de querer criar algo anti-natura e contrariar o ciclo económico! Já sabemos que tudo o que sobe tem de descer e que os investimentos têm de ser ponderados no longo prazo...mas isso parece ser impossível para os agentes financeiros!